Muitos pais, quando têm seus filhos, não pensam nas possibilidades de que gênero eles possam ser, independente do sexo de nascença. A cultura e o costume de assistir meninas vestindo rosa se tornando mulheres, e meninos brincando de carrinho se tornando homens, criam estas duas únicas expectativas. É em torno de 2 a 3 anos que uma criança tem a percepção do corpo de seu sexo biológico. A partir de então, começa a expressar a vivência em seu gênero, que é uma percepção interna, psíquica da sua identidade de gênero que pode se identificar com o gênero de seu sexo ou com o gênero oposto.
A hora de se relacionar com outras crianças, a hora de brincar e suas escolhas de roupas e brinquedos, é crucial para a criança, pois ela começa a expressar e se identificar com um gênero. Porém, é importante ressaltar que é extremamente comum e saudável um menino querer brincar com uma boneca e uma menina querer usar uma gravata, por exemplo, e terem sua identidade de gênero conforme seu sexo biológico. As crianças devem ser livres para desenvolver sua criatividade explorando um universo lúdico sem restrição de gênero, para então futuramente ou brevemente, sentir-se mais confortável para se identificar com o gênero feminino ou masculino.
Para identificar uma criança trans, é preciso prestar atenção em seu comportamento, se há um desconforto rejeição com o seu corpo em relação às características do sexo biológico, sua preferência em brincar com crianças do sexo oposto, a escolha de suas roupas e até mesmo sintomas de depressão, por conta dos conflitos internos e medo de repressão dos pais. Se estas atitudes persistem por um período de seis meses, é importante considerar que a criança pode ser transgênero.
Por se tratar de um assunto delicado, que envolve uma criança em pleno processo evolutivo, em uma chuva de mudanças físicas, cerebrais e hormonais, pode provocar muito sofrimento e causar a depressão. A procura dos pais por um psicólogo especializado, é somente para para orientá-los e dar suporte psíquico a criança, para o processo de aceitação e revelação perante outros familiares e sociedade, além do suporte a situações de intolerância que irão enfrentar. A ajuda de um profissional não tem a ver com a tão falada e equivocada “cura” ou reversão de gênero.
O apoio dos pais e um acompanhamento de um profissional da área, desde o começo, é fundamental para a criança trans e seu crescimento. É com o amor e a sincera aceitação que se adquire forças para ser quem se é, em um mundo tão preconceituoso e agressivo com quem é “diferente”. O mundo precisa tomar mais conhecimento sobre os transgêneros e tornar as pessoas mais conscientes e tolerantes, pois há muitas histórias de crianças e jovens transgêneros com finais, ou poderíamos dizer, recomeços felizes.